Madrugou.
Ainda deitada perdeu uns minutos observando angustiada o travesseiro vazio ao lado. Ele não voltara. Claro que não, não costumava voltar mesmo.
Tomou coragem, se levantou, se vestiu. Com os cabelos devidamente escovados e apresilhados pegou a bolsa e saiu, sem fome.
Na rua queria acreditar que era ainda muito cedo, mas o movimento no mercado não deixava enganar. Era tarde o suficiente para qualquer marido estar em casa, dormindo, há tempos.
Desviava dos bares e dos conhecidos, em vão. Os cumprimentos não significavam mais que o murmurinho ao redor, que por sua vez não era mais que um ruído perturbador que entrava quente pelos ouvidos, descia pela nuca e depois pescoço atingindo a garganta onde fazia ferver o choro lá parado, pronto para arrebentar. Faltava o ar.
Comprou um frango e umas orelhas de padre.
Passou por uns homens que descarregavam um caminhão da venda de queijos e vinhos e sentiu-se nua, abusada. Com o cheiro de queijo teve até vertigens.
Faltava ainda a farinha. Sentiu mais nojo que de costume dos dentes do dono da venda de grãos, que fazia sempre questão de lhe atender sorrindo, com lascívia.
No caminho de volta não tinha certeza se era melhor ir embora ou ficar por lá.
Abriu a porta da cozinha, descançou as sacolas sobre a mesa e com uma esperança tensa foi checar a casa querendo que ele estivesse lá. Ele estava.
Jogado na poltrona, sem camisa, com aquelas calças de algodão, um cigarro queimado entre os dedos, tão branco quanto o frango que descançava na cozinha, a barba ruiva contrastava como nunca. Boca aberta num vermelho violaceo, lingua quase azul. Esperou chegar em casa, ela pensou.
Ligou para a emergência.
Pegou uma sacola de pano grande, socou umas saias e qualquer coisa mais que não conseguiu contar. Importante mesmo era não se esquecer das meias e das presilhas.
Partiu. Uma brisa que não sentia há anos entrou em seus pulmões e quando saiu levou junto as lágrimas que há minutos atrás lhe ameaçavam o afogamento.
Quarenta e cinco minutos de caminhada depois ainda não sabia para onde ia, mas já se esquecera porque partira...
Eu sei usar próclise, enclise e mesóclise, Obrigada.
Auá.
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
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